Você já encontrou uma ave usando pulseiras? Essas pulseiras são chamadas de anilhas e nesse artigo a gente conta como é o processo de anilhamento e para que ele serve.
Cada anilha possui um número único, como se fosse nosso RG. Esse número é usado para identificar cada indivíduo e, assim, sermos capazes de reconhecer cada uma das aves. Existem diferentes tipos de anilhas para diferentes usos. Animais silvestres em cativeiro possuem uma anilha de modelo diferente das anilhas usadas para aves de vida livre. Ambas são metálicas, com uma numeração singular, mas o modelo e a legislação são diferentes. Nesse texto vamos falar sobre as anilhas para aves de vida livre.
As anilhas para aves silvestres são fornecidas pelo Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Aves Silvestres (CEMAVE), um centro de pesquisa ligado ao ICMBio. Para se tornar um anilhador é necessário um tempo de treinamento em conjunto com pessoas qualificadas e recomendação de outras pessoas que já são anilhadoras. Além disso, para obter as anilhas e, de fato, efetuar a marcação, é necessária licença concedida por órgãos ambientais (ICMBio) e posterior aprovação pelo CEMAVE. Ou seja: para realizar uma pesquisa que envolve captura, manuseio e marcação de aves silvestres é necessário treinamento e aprovação de uma equipe de pessoas da área, para tornar a atividade o mais segura possível para esses animais.
Existe uma série de tamanhos de pulseiras para que se adaptem a diferentes espécies, com diferentes tamanhos de tarso. O diâmetro é indicado por uma letra, sendo a letra A a de menor tamanho e a Z de maior tamanho. É possível saber qual o tamanho necessário para cada espécie pelo material fornecido pelo CEMAVE ou usando uma régua especial para medição do tarso.
Além das anilhas metálicas existem as anilhas coloridas, colocadas no tarso com diferentes combinações de cores. Elas são facultativas e dependem do trabalho que se está realizando, sendo usadas principalmente em projetos onde é necessário saber de longe quem são aqueles indivíduos. Afinal, é muito mais fácil perceber as cores do que ler um número quando se está distante.
Durante o anilhamento são coletadas diversas informações sobre as aves como tamanho da asa, do bico, peso, se a ave é jovem ou não, se está ou não no período reprodutivo… E dependendo do que se está querendo estudar, essa lista pode se tornar muito variada. Ao recapturar as aves, tempos depois, é possível comparar esses dados e ver como a condição da ave mudou.
E qual a importância do anilhamento? Ao marcar os indivíduos podemos realizar uma série de trabalhos. Por exemplo, é possível acompanhar a rota de migração de aves, uso do território, época de reprodução, de muda e diversos outros comportamentos e informações biológicas das espécies. Com o anilhamento também podemos estimar o número de indivíduos que existem no ambiente, o que é um dado extremamente importante quando pensamos em conservação. Também traz diversas informações importantes para compreender melhor a vida das aves, sendo essencial em pesquisas de longa duração. Existem vários relatos de recaptura de aves depois de vários anos no mesmo lugar. Ou ainda: aves que são consideradas residentes, mas que foram recapturadas em locais totalmente diferentes! Recentemente, por exemplo, uma murucututu-de-barriga-amarela Pulsatrix koeniswaldiana foi encontrada há 160km de onde foi marcada. Esse fato é uma informação completamente diferente do que já se conheciam, já que se considera que essa espécie é residente e não se desloca por longas distâncias.
O anilhamento é uma atividade técnica realizada por pesquisadores treinados e preocupados com a ética e o bem-estar das aves. Todas as atividades são desenvolvidas para minimizar o estresse dos indivíduos. Caso você não seja um anilhador, mas quer colaborar com todos esses dados, saiba que é possível! Quando encontrar uma ave usando pulseira avise o CEMAVE. Os avistamentos são fundamentais para pesquisa e conservação das aves silvestres. E relatando ao CEMAVE você ainda pode receber um certificado de agradecimento contendo todas as informações da ave avistada.